Poemas - Venenos consumidos.

00001. 
Um a um morrem 
os palitos de fósforo 
e eu não acendo 
essa estrela neste cigarro.

***
00002
Dragão fuma
na Asia de Mao.

***
00003
O cigarro
é que morte na boca 
de uma mulher.
O fogo chupado
um pirulito de escape.

Já vários se apagarem
ela e a porta e a boca.
Fechada.

Um cimento só,
a mão que visita
encalesse 
por atravessar
o rosto severo.

já vi vários se apagarem

Num sol que vai morrendo
por não ter mais o que filtrar
na boca seca de meu terreno.
***


00004
Levanto uns trezentos de mim da mesma cama,
Enfrento uma fila de personalidades para ver-me diante do espelho
Uso computador neste momento com mais de um pensamento
Ainda tenho que alimentar todas as dezenas de bocas que tenho
Da fome que nunca sacia.

É dez mil musicas para três ouvidos
Oito televisões olhos à vista de aranha
Quatro braços e duas cabeças
Cem pernas sem destino
E no fundo de um copo seco
Um só coração batendo infinitos.

***
00005
Teu cabelo espalhado por dentro da casa
Minha cabeça esfriando na bandeja
Caneta que o policial não tem
Do crime que só meu rascunho viu.

*** 

00006
A capa
Vestido de uma virgem
Recolhida aonde dá
Para se esconder
Em quatro paredes.

As linhas
Que o palhaço
Tropeçou na lama que o golfinho
Pra ser esquecido mergulhou.

O final
Que vem com a luz
Crescendo no fim do túnel
Ou pesadelo ter antes
Seu despertar

Ter nas patas agonizantes
Livros que são abismos
Me sentir tão identificado
Que me uno aos versos
Rompendo qualquer relacionamento
Pode até me odiar,
Mas ficarei com estes versos
Ah esses universos.


***
00007
Fizeram em mim um circulo,

Só para se esquentarem
As histórias navegavam
Pela noite sempre remando.
Passando por árvores
Folhagens e pedras informantes
A história ficará suspensa,
Num mar calmo de silêncio
Onde afoga a solidão.

***
00008
As pedras vão voando
E as consciências pesadas
As jogam de novo no mesmo lugar.
Bebendo água quando a maré
Enche, se apaixona de novo diz o vazio.
Eram três, uma, era tijolo, continha escorpiões
Não dava para confiar.
Duas, tinha musgo de mais a fazer
Três pensa nuvens, essa se formou,
E hoje é meteoro.

***
00009
Quem dera que nossas
Palavras tivessem ossos
Para quando nosso corpo
Transpirar mofo
E não aparecermos mais
Para nenhuma fotografia
Nossas palavras ali estarem.

Alguém que quiser vasculhar-me por dentro
Vendo que entediado fui a óbito
Vai poder ver nossa cama amarelada
O mau cheiro de nossas discussões
E minha mão gelada longe da tua.

Os legistas irão comentar
Que andávamos brigando.

Aberto sou um livro
E não tenho mais o que esconder
A garganta entalada de desenhos
Uma garrafa cheia em meu fígado
Em meu cérebro uma bagunça só 
Meus olhos em tijolo alaranjado
Meu coração aberto pela faquinha fria e sem graça
Tua fotografia estava naufragada lá.
Entre veias nervosas e cárdias.

Então eles tiram o corpo da casa
Finalmente é objeto, oca e vazia
E se minhas palavras tivessem ossos
A casa estaria cheia de esqueletos
E eles teriam muito trabalho e muita
Metáfora há de enterrar.